sábado, 13 de dezembro de 2014

Zoomorfismo humano

Ao pé do ouvido de Fabiano, Baleia sussurrava um mundo fantástico. Perdizes caíam do céu e a vida não era seca. 

O matuto ouvia com atenção as histórias da sabida companheira.

Os contos de Baleia podiam até não ser de verdade, mas nutriam o resto de humanidade daquele amarelo. 

Ele bem sabia que o intuito da amiga era livrá-lo da dureza da vida.

Eu não era desses que acreditava no antropomorfismo do homem pelos cuidados dos animais. 

Sim. Antropomorfismo. Isso porque são os animais que nos humanizam.

Há nove meses, decidi que queria um cachorro. Não tinha a mínima ideia do que era ser tutor. Não sabia como alimentar, dar banho, passear, coçar a barriguinha. Mas estava decido.

Batizei minha shitzu de Capitu. Homenagem a uma das principais personagens da literatura brasileira.

Capitu chegou minúscula, indefesa. Confiava apenas em mim. Eu, desconfiado, pensava: "onde que eu estava com a cabeça?"

Aos poucos, ela já havia se instalado no meu quarto. As sessões de psicanálise, as dispensei. Se o problema era expressar os sentimentos, com olhar vigilante de Capitu, era impossível não dizer te amo.

Indago-me o poder que esses animaizinhos têm de nos seduzir. Magicamente, tornam-nos menos zoomórficos. Neles, reconheço a lealdade e a fidelidade que os seres humanos não carregam em sua plenitude.

Talvez, por isso, não seja nenhum exagero dizer que, na linha evolutiva, eles etão muito à frente daqueles se dizem homens.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário