domingo, 14 de dezembro de 2014

"A zueira não pode parar"

Nas redes sociais, pipocam protestos contra o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). 

É que na semana passada, ao se referir à também parlamentar Maria do Rosário (PT-RS), Bolsa soltou mais uma de suas pérolas: "não te estupro porque você não merece".

Na próxima quarta (17), diversos movimentos sociais prometem protestar em Brasília. 

O objetivo é pedir a cabeça do Bolsa. Para isso, movimentos de classe argumentam a favor de quebra de decoro parlamentar e violação dos Direitos Humanos.

Essa não é primeira vez que o deputado profere impropérios contra minorias. Os gays já foram alvo de suas tiradas estapafúrdias. Evidente que é preciso frear a língua solta e serelepe do Bolsa. Mas também há, nisso tudo, um outo viés.

Por mais indignados - e com razão - que estejam os movimentos sociais, ele se esquecem de um fator determinante para a atuação do congressista. A política é o palco de ação proeminente do espetáculo midiático. 

Na era moderna, a política não existe sem a comunicação. Para entrar na mídia, é preciso adaptar o discurso à gramática dos meios. Fatos que rompem com a ordem natural das coisas, que perturbam o cotidiano, inesperados, bizarros - do francês fait divers - são um prato cheio para jornalistas.

Mais do que ninguém, Bolsa aprendeu muito rápido como se fazer em espetáculo para ganhar visibilidade. Apesar de negativa, ele encontra respaldo em uma grande parcela da sociedade, domesticada ainda ao modelo patriarcal que se divide entre a casa grande e senzala. 

Isso não é privilégio, na bancada congressista atual, do Bolsa. Tiririca ganhou as eleições como um personagem. O bordão "pior do que tá não fica" rendeu-lhe milhões de votos. Sintoma de uma sociedade desacreditada da política.

Intelectuais como Stuart Hall também já soltaram as suas. Considerado um dos principais pensadores dos Estudos Culturais Ingleses nas décadas de 1960 e 1970, referiu-se da seguinte forma ao movimento feminista:

"Não se sabe, de uma maneira geral. onde e como o feminismo arroubou a casa. (...) Como um ladrão no meio da noite, ele entrou, perturbou, fez um ruído inconveniente, tomou a vez".

Apesar do tom machista, o que Hall queria mesmo era marcar a posição de uma nova teoria, chamando a atenção para o fato de que a diferença sexual é um locus de poder dentro da sociedade.

Poder que Bolsonaro utiliza muito bem. Suas declarações compactuam com uma sociedade que ainda aceita a discriminação sexista. Ou melhor, com uma sociedade que faz do sexismo o termo para referendar práticas sociais discriminatórias.

Tais argumentos de Bolsa trazem para si os holofotes da mídias. Não que essa seja vilã, mas uma instância que depende do espetáculo para se manter viva. E nada mais circense do que um deputado, no púlpito, performar textos que, hipocritamente, nos envergonhamos de falar. 

Envergonhamos sim. Já que somos fruto de uma sociedade patriarcal que dissemina sua ideologia e reforça o poder estabelecido através de mãos invisíveis, como já asseverou Michel Foucault.

Não é demais reforçar, Bolsa é o legítimo representante da sociedade do espetáculo. Está no centro das atenções e e vai fazer de tudo para se mante nesse lugar. Como ele mesmo disse, "A zueira não pode parar".                 

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